Mais uma reunião, mais um cliente, mais um trabalho que precisa ser feito com prazo curto, além da demanda dos filhos, dieta, academia e uma dose de desenvolvimento social e pessoal. Quem assistiu ao filme da Barbie viu uma cena com essa reclamação, porém, ela está em milhares de filmes, em milhares de timelines. Mas o que ninguém fala é que essa reclamação oferece um tipo de conforto mental, algo próximo ao prazer psicológico.
É evidente que muitas pessoas sofrem com o excesso de trabalho, mas é igualmente claro que muitas outras desperdiçam tempo em atividades infrutíferas e, por conta disso, acabam se colocando sob pressão. E a pressão é um privilégio para o cérebro, algo que poucos alcançam de forma genuína.
A simulação é um mecanismo comum em todos nós. Temos muitas “pílulas” espalhadas por aí para simular uma série de coisas. Tudo que precisamos, conseguiremos, seja pela via da verdade, seja pela simulação. Claro, a simulação contribui para muitas coisas. Aquela sensação de medo de bater os dentes no primeiro beijo era dissipada com alguns treinos em laranjas ou até mesmo no próprio braço. Mas era apenas uma simulação. Isso ocorre também com todos os tipos de drogas e atividades banalizadas que temos comercializado livremente. Nos livramos de pesos psicológicos com uma bebida, acrescentamos uma dose de força com algum suplemento, entramos em um aplicativo para procurar o “amor” e nos sentimos melhor com tudo isso. Deve ter algo de positivo nisso. No entanto, perdemos a sensação de glória que uma vitória genuína oferece.
A pressão é um privilégio, e não é por acaso que divulgamos tanto esse momento. Divulgamos quando nos sentimos pressionados. Muito trabalho, muitas demandas. Mas é possível que seja mais um mecanismo de simulação, onde não vivemos uma pressão de verdade, apenas vivenciamos a sensação rasa e passageira de uma possível vitória sob pressão. Um sentimento que passa logo que uma notificação aparece na tela. Somos bons atores e fingimos muito bem, inclusive, para nós mesmos.
Mas, imagine a pressão psicológica de um corredor olímpico na última corrida, antes de ouvir o sinal. Cada ciclo olímpico é composto de 4 anos, e depois de todo esse tempo, treinando diariamente, sem poder faltar jamais, sem poder sair do plano, pois ele sabe que qualquer descuido irá impactar na última corrida. Esse atleta sabe que milhões de pessoas estão assistindo aquele momento. Ele sabe de tudo que foi preciso para chegar até lá. Quantas emoções ele precisou conter e trabalhar para que aquele momento épico, que vai definir o seu nome na história do esporte, aconteça.
Esse é o tipo de pressão que todos nós gostaríamos de viver. As batalhas épicas são histórias de superação humana que transcendem culturas, épocas e povos. A jornada genuína de um ser humano, a trajetória de um herói em construção, precisa passar por momentos de pressão. Nosso mais profundo entendimento compreende isso, mesmo que a gente não dê bola para nada que seja profundo. Lá, na alma do ser humano, existe um herói que clama por pressão, pois sabe que é na pressão que o herói se constrói.
Não é por acaso que divulgamos tanto esses momentos. Sejam eles verdadeiros ou sejam eles apenas anseios de um herói que dorme escondido, sem saber ainda para o que veio nem o que deve fazer.
Pressão é um privilégio para qualquer pessoa.