(Staying the moment or trying to blank everything out)
Alistair Brownlee
O desenvolvimento do autocontrole é determinante para o futuro de qualquer sociedade. Segundo a psicóloga americana Terrie Moffitt, aqueles que desenvolvem a capacidade de controlar suas emoções quando crianças tendem a se tornar adultos mais felizes, saudáveis e prósperos, menos propensos a cometer crimes, abusar de drogas e criar filhos como pais solteiros. É um poder fundamental para o indivíduo e também representa o poder de um grupo, de uma equipe, ou de uma nação.
Um atleta de alto desempenho só consegue chegar ao topo devido ao autocontrole emocional. Embora a elite esportiva possua atributos físicos que se diferenciam do comum, não é essa a principal distinção. A habilidade de perseverar vai impactar no desempenho e determinar até onde um atleta pode chegar. O corpo é muito parecido, mas a mente de alguns informa que o objetivo está mais a frente e é para lá que se vai.
Essa capacidade não é diferente em nossa vida comum, em nossas atividades cotidianas, longe das arenas e dos campeonatos internacionais. Nossa capacidade de autocontrole pode nos tornar excepcionais dentro de uma cultura de onde a gratificação instantânea e relações breves, são muito mais populares do que se manter focado em alguma coisa.
A Economia é uma ciência que lida com a escassez de recursos. Em teoria, e considerando a bondade no coração das pessoas que estabelecem leis e políticas macroeconômicas, quando uma atividade humana começa a apresentar problemas, como beber e dirigir, são criadas barreiras e incentivos para evitar tal comportamento. Assim, por meio de multas e fiscalizações, o motorista sente-se compelido a seguir as regras. O mesmo princípio se aplica quando o objetivo é promover uma indústria local, eliminando impostos e tornando o caminho mais viável para o produtor. Com o tempo, essa atividade se torna mais comum dentro desse grupo.
A cultura funciona de maneira similar à economia, pois ela é moldada por incentivos e ações práticas e simbólicas. Quando os agentes dessa cultura, pessoas e instituições em geral, não encorajam determinados comportamentos, estes gradualmente são desestimulados, e vice-versa. É algo semelhante à personagem Lisa Simpson, que apresenta soluções para problemas, mas é rejeitada por ser considerada muito inteligente para o grupo. Na superfície, todos estão conectados. No entanto, penetrar nas camadas mais profundas de um problema exige esforço mental e muitas vitórias, incluindo a superação da ansiedade que resulta da perda da capacidade de permanecer tranquilo por curtos momentos. Sem vencer a ansiedade, logo surge a necessidade de uma novidade, uma notificação, uma nova tela. Na superfície, parece essencial estar em movimento constante.
Qualquer problema requer foco para ser resolvido e, ampliando um pouco o conceito de problema, tudo o que demanda solução é um problema. Um problema é qualquer coisa que exija uma resposta. Desde escolher frutas e legumes até um carro ou uma casa, passando pela escolha das palavras a serem dirigidas a alguém, ou quando o corpo pede para parar apesar do desejo de continuar lutando por algo.
Para qualquer tipo de problema, existem várias opções, sendo que geralmente as mais desafiadoras são as que trazem maiores benefícios, pois desistir também traz benefícios. É o descanso desejado que preenche a mente quando as pernas clamam por repouso. É pedir comida pelo Ifood ao invés de comprar legumes. É recorrer a drogas em vez de enfrentar questões existenciais. Os problemas que são enfrentados superficialmente crescem como uma bola de neve na vida de uma pessoa e, consequentemente, na vida de um grupo.
O esporte carrega essa mentalidade, pois os atletas precisam deixar claro para seus corpos o que suas mentes decidiram previamente, através do trabalho árduo do controle das emoções. “Quando eu sentir dor, vou continuar em direção ao pódio.”
Nossa vida não é diferente disso. Sentimos muitas dores, como os atletas, mas não temos um pódio visual para nos guiar. Sem um pódio, restam apenas as angústias de um corpo que sofre, tornando a decisão mais fácil, já que não há glória em resistir a uma cerveja ou a mais uma série na Netflix. Dessa forma, o pódio parece ser o destino das celebridades, e nossa vida comum se transforma em um ciclo de ansiedades e alívios triviais.
O grupo colhe as decisões do indivíduo. A cultura do grupo é a cultura que cada um pratica dentro de seu lar. Todos nós colhemos os frutos.
Nossas pequenas metas são nossos grandes pódios.