“As a captain you don’t actually know what to do, so you have to say, “This is what I want to do, this is what I believe in,” and whether you’re right or wrong, you make a decision on it. You’ve got to be stubborn, you’ve got to be tough, you’ve got to be ruthless in one sense.”
Alastair Cook
Não adianta planejar a estratégia e elaborar o plano perfeito para na hora de entrar em campo os jogadores esquecerem do significado que aquele combate possuiu.
As lideranças precisam atuar e mostrar, na prática, os ingredientes mais profundos que estão compondo aquele show. O time precisa respeitar e transmitir a filosofia do clube, e demonstrar que compreendem toda a trajetória afetiva e emocional que aquela bandeira, a bandeira do clube que está sendo defendido, carrega.
O estádio lotado retumba um único grito e impulsiona os atletas para a vitória. Porém, esse mesmo grito pode paralisar as ações por conta da pressão. Incertos sobre os sentimentos, as pernas tremem, a mente treme, e o passe acaba saindo errado. O capitão da equipe é quem deve aparar essas arestas para que o time volte à tona e possa se reencontrar no trabalho realizado, nos treinamentos, nos sacrifícios feitos, na observação do momento e a partir desses ingredientes encontrar a confiança e estabilizar os ânimos dos jogadores.
“A pressão é um privilégio e você deve aproveitá-la, não senti-la.” Mas, é claro que isso só vale para quem realmente trabalhou nos treinos e deu o seu melhor. E o capitão é o jogador que mais recebe a carga emocional do jogo. Ele tem mais responsabilidades e precisa ser o personagem que melhor trabalha sob pressão. Ele precisa amar esse momento e para amar a pressão é preciso ser autêntico, ser convicto sobre suas decisões e aceitar que pode errar a qualquer momento.
O capitão é ele mesmo e o público sabe disso, a plateia o reconhece. Ele é o espelho de todos os que estão envolvidos naquele instante. Ele é autêntico por natureza.
Autenticidade é sinônimo de pressão. Para ser quem você realmente é, será preciso lidar com vários limites. Os limites de todas as pessoas e situações nas quais você se encontra durante um dia. Uma pessoa autêntica recebe mais críticas do que alguém que busca simular e dissimular suas ações. Alguns simulam qualidades para parecer melhores, outros dissimulam fraquezas, para não mostrar os defeitos. Em resumo, trata-se de um gatilho a que todos nós estamos sujeitos. O autêntico é aquele cara que ofende os parentes sem querer em uma discussão, que tenta elogiar mas é mal interpretado. O autêntico erra, sabe que erra, e ele precisa ser assim. Ele precisa errar e ser convicto ao mesmo tempo.
Quando fingimos que somos outra coisa para nos adaptarmos socialmente, escapamos da pressão verdadeira e nos afastamos de treinar a vida com esse ingrediente. Quando ela chega, a pressão sempre chega, em uma discussão em uma apresentação de trabalho, etc., não sabemos lidar com esse sentimento e “erramos o passe” que parecia fácil. Temos medo da crítica, medo da vaia e tudo isso gera pressão emocional. Mas, tudo isso é, também, um privilégio.
O capitão tem a missão de ser autêntico e podemos observar que alguns deles, alguns marcantes, ficaram na memória justamente por extravasar o que sentiam. Não é incomum assistirmos a uma cena de um capitão xingando o técnico e sendo duro com os colegas em campo. Também não é incomum ouvir os técnicos dizerem que tais atitudes não os surpreenderam, pois era o que se esperava deles. O capitão tem sede de vitória, tem o carisma da responsabilidade e ele se enerva quando as coisas não vão bem. Ele é um espelho da torcida, mas além disso, ele é uma ponte entre a filosofia do clube, que ecoa pela voz dos torcedores, o plano tático que é traduzido pelo técnico e as ações dos jogadores em campo. Ser um capitão é representar a história do clube dentro de campo. Nada fácil de ser, nada fácil de encontrar.
Em nossa vida comum, podemos considerar um aspecto como sendo o nosso capitão. É o aspecto mais autêntico que pode existir em nossa alma. Aquele talento nato que fala sobre a nossa existência completa. Como exercício de auto descoberta, podemos pensar no nosso “eu” que mais gosta de entrar em cena e trabalhar com os sentimentos que os aplausos, vaias e críticas exercem no corpo e na mente.Na minha vida, esse aspecto pode ser chamado de ‘O Artista’. Ele está sempre disposto a atuar, mesmo que receba vaias, críticas e aplausos. Os aplausos são ótimos, mas a vaia também é fundamental.
No momento, podemos estar atuando profissionalmente em algum tipo de trabalho que não seja, de fato, a nossa maior virtude, mas é a nossa fonte de renda e é o nosso melhor atacante. O capitão não precisa ser a fonte de gols, nem de renda, mas ele precisa estar atuando para que as coisas funcionem.
Todo o plantel tem um capitão, mesmo que escondido no banco de reservas ou nas categorias de base. Nesses casos, ele está ali, aguardando o momento de ser chamado para entrar em campo e mostrar aos outros jogadores o que significa tudo isso. Esse cara, essa nossa característica genuína, pode não fazer gols, mas é o responsável por canalizar tudo que somos dentro de uma circunstância imediata, o presente.
O nosso capitão mental analisa a trajetória completa do nosso time e sente a hora de ser quem se é, enquanto saboreia o grito da torcida ou lida com as críticas quando o jogo não vai bem.
O capitão sabe viver quem ele é. Ele sabe viver a responsabilidade de ser cobrado por coisas que ele sabe que deve fazer. Ele jamais ficará satisfeito quando perceber que o time está desviando do caminho pré-estabelecido. Ele sabe que a punição de não honrar a própria camisa é a de sofrer eternamente a frustração de não ter feito o que somente o nosso time poderia ter feito.