Desenvolvimento pessoal + Desenvolvimento intelectual + Desenvolvimento físico
Você pode achar estranho relacionar a prática do pensamento com o futebol. Mas eu posso explicar. O futebol é uma das metáforas mais utilizadas em território brasileiro. Mesmo hoje, sem termos o protagonismo que já tivemos nesse esporte, até mesmo pessoas que nunca praticaram o esporte compreendem quando falamos que está faltando o drible. O futebol faz parte do tecido social da nossa cultura e é um dos principais fios condutores do povo.
A manifestação cultural ocorre em qualquer atividade humana, mas quando o desejo de observar de forma panorâmica a cultura brasileira, o futebol talvez seja o primeiro e mais importante dos pilares para compreender o modo como a cultura se manifesta. Jogadores, torcedores, imprensa, trabalhadores e toda a indústria do futebol são apenas resultados de um comportamento que caracteriza a nossa massa. Podemos até mesmo acreditar, de forma ingênua, em tudo no processo comercial onde o dinheiro é que manda e não há mais o que pensar sobre isso.
Sim, podemos e de fato muita gente faz isso. Mas o futebol é uma arte complexa que movimenta multidões. Mesmo que tudo fosse explicado de forma rasa pelo dinheiro, ainda assim restaria a pergunta: por que não fizeram isso com o vôlei, com o handball, com as artes plásticas, com a música?
O futebol é a manifestação da cultura na qual ele está inserido. Podemos perceber o conceito de todos os comportamentos e emoções humanas. Enxergamos a superação dos atletas, a corrupção dos dirigentes, a determinação analítica de treinadores, a paixão cega de torcedores, a herança familiar passada de pai para filho e até mesmo a rejeição dessa herança. São muitos comportamentos e emoções que se movem de acordo com o quicar da bola.
Contudo, observando o futebol brasileiro e considerando todos esses detalhes já mencionados, logo de início podemos concluir que a capacidade de raciocínio está diminuindo a cada ano. O brasileiro parece não gostar mais de enfrentar dificuldades para tornar-se autêntico. O brasileiro parece que perdeu o gosto pelo pensamento. A tendência é piorar a cada ano.
Os detalhes são muitos e as teorias são ainda maiores, mas de qualquer forma, nossa intenção aqui é utilizar o futebol como veículo para invadir a nossa própria individualidade e descobrir onde está aquele drible que quebra as linhas de defesa do oponente e que está esquecido em nossos pensamentos mais profundos.
Onde estão as minhas melhores características e fundamentos do brasileiro? Não! Não é o jeitinho. O jeitinho é o que nos trouxe até aqui. Aquela velha vontade de encontrar um atalho, aquela velha preguiça, talvez resultado do calor intenso.
O jeitinho brasileiro, graças a Deus, foi superado pelo condicionamento físico e tático dos europeus.
O jeitinho brasileiro foi superado por pessoas que estudam e buscam trabalhar de forma justa em cima das próprias capacidades.
O pior de tudo é que sabemos disso. Nenhum brasileiro teria orgulho de ter ganhado uma Copa do Mundo com um gol de mão. O brasileiro jamais gostou do jeitinho; foi o jeitinho que encontrou morada na cultura brasileira. O jeitinho está aí, escondido, em todos os cantos, seja com gols de mão ou na leitura dinâmica que fazemos todos os dias.
Vamos utilizar o futebol para pensar de forma um pouco mais profunda, mas para isso, será preciso nos livrar de uma carga pesada que acompanha o brasileiro há décadas.
O conceito-chave para todos os jeitinhos que estão por aí em nossa cultura: “eu não compreendo o que vocês estão falando, portanto, vocês devem estar errados.
Vamos ter que trabalhar duro para nos livrar dessa ideia, antes de qualquer coisa.