Uma das premissas do marketing é levar o cliente a perceber o produto como sendo a melhor opção.
Isso não significa ser a melhor opção, mas ser percebido como tal, e os produtos de beleza, no fim das contas, são produtos de marketing que servem às aparências, mas que invadem o mundo das ideias.
Não é por acaso que as pessoas desejam ser mais bonitas.
Uma pesquisa, já antiga, conduzida por Alan Slater pela Universidade Britânica de Exeter, indica que bebês tendem a observar por mais tempo pessoas consideradas (pelo voto popular) mais bonitas. A beleza, nesse caso, pode ser medida por simetrias e equilíbrios. Se essa pesquisa estiver correta, parece que existe alguma estrutura psíquica já bem formulada, inserida em nosso “sistema operacional”, que busca a beleza mais do que a feiura.
Parecer belo, portanto, torna-se uma meta de vida para muitas pessoas. Parecer belo, de forma conceitual, também. Parecer correto, parecer competente, parecer habilidoso, parecer… Uma cultura do parecer alguma coisa, não por acaso, acabou surgindo.
Pelo que consta, sem pretensões de ser exato com datas, por volta do ano 1500 surgiram as universidades tal como as conhecemos hoje. Antes, os estudantes ingressavam em locais de estudo para viver uma vida de aprendizado. Mas, talvez para aproveitar a fama de alguns filósofos, um marketeiro medieval teve a brilhante ideia de introduzir diplomas na carreira estudantil.
A partir daí, esquece! A busca por diplomas tornou-se mais importante do que a busca por conhecimento e sabedoria. Um diploma oferece a aparência de profundo conhecimento, enquanto uma vida de estudos oferece, inclusive, uma aparência decrépita e isolada da realidade.
Nesse novo contexto, para que algo vença o domínio da aparência, será necessário combater de forma isolada, recebendo críticas constantes.
Essas críticas, com poucas exceções, serão rasas e sem fundamento. O que nos garante isso são os séculos de Teoria Crítica, plantados na mente dos indivíduos.
“Quem foi explorado?”

A criança não sabe ler, mas já está aprendendo a criticar algo profundo e complexo como o sistema econômico e de trabalho. Em resumo, essa é a Teoria Crítica, um lugar onde devemos descortinar todos os erros que percebemos. Mas, evidentemente, é necessário perceber apenas o que está na cartilha. A posição contrária a essa é muito bem colocada em forma de alegoria por G.K. Chesterton: “Um revolucionário se depara com uma cerca no meio da estrada e imediatamente passa a destruí-la, pois não vê motivos para ela estar ali. De forma oposta, o conservador, antes de fazer qualquer coisa, precisa compreender os motivos pelos quais aquela cerca está ali.” Criticar algo exige conhecimento profundo, não emoção profunda sobre os problemas do mundo.
Os jovens estudantes de hoje, formados em alguma variação dessa Teoria Crítica, estão prontos para rechaçar qualquer coisa que os faça pensar fora dos gatilhos disponíveis. Portanto, para vencer o domínio das aparências, teremos que utilizar argumentos sem popularidade, decrépitos, magros, esqueléticos.
Teremos que encarar uma correnteza de críticas, mas confiando no íntimo que diz que as aparências enganam e sempre enganaram.
Como dizia o antigo slogan de um refrigerante:
“Imagem não é nada, sede é tudo. Obedeça a sua sede.”
O que aconteceu é que a sede, o vazio, o vácuo foram escondidos, e poucas pessoas têm acesso ao mapa desse tesouro. Dessa maneira, como questionar o movimento da massa de pessoas em direção ao universo das aparências, se tudo o que se vê é tudo o que há?
Mais uma vez, estamos em uma cilada metafísica, em que o mais importante é invisível aos olhos, mas o coração sente o baque e se entristece.