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“A imprensa brasileira tem sobrevivido da raiva das pessoas.” – Tony Blair

Posted on 2 de maio de 202429 de maio de 2024

A fala do ex-primeiro ministro britânico foi direcionada para o jornalismo político, diretamente político, mas esse fenômeno pode ser comprovado observando a imprensa esportiva de forma ainda mais evidente.

O futebol é a representação máxima da cultura na qual ele está inserido. Nós repetimos essa frase por aqui, pois ela representa uma chave de leitura para os fenômenos que envolvem o futebol. Tudo que acontece em torno deste esporte é um reflexo social. Desta forma, o comportamento da imprensa, o da esportiva ainda mais, representa o comportamento da sociedade na qual essa imprensa está inserida.

A política se tornou binária e, como disse o filósofo e escritor espanhol:

“…ser de esquerda, como ser de direita, é uma das infinitas maneiras que o homem pode eleger para ser um imbecil…a persistência desses qualificativos contribui muito para falsificar ainda mais a realidade do presente, que já é falsa por si, porque as experiências políticas correspondentes se complicaram ao extremo…”

Ortega y Gasset

Mesmo o mais ingênuo dos cidadãos percebe o quanto as ideologias forçam para invadir a esfera individual de pensamento e alterar as inclinações do vivente comum. Dessa forma, o filtro anti-política está sempre acionado. Em contrapartida, quando ele está em seu modo entretenimento, que diga-se de passagem, é o modo mais acionado pelo brasileiro comum durante o dia, as defesas contra pautas políticas binárias estão desligadas. E isso aguça o interesse de quem deseja mais poder ou controle. Pessoas atentas ao entretenimento que não estão preocupadas com a invasão do seu centro de pensamento são os alvos preferenciais, pois são fáceis de atingir.

E é dessa forma que a imprensa esportiva tornou-se uma das mais perigosas e letais para uma sociedade. Dando a impressão de que são meros agentes de um assunto raso, ingênuo e enfadonho, eles repetem suas pautas incluindo apenas algumas palavras, poucas palavras, que estarão ali, ancorando o debate que parece ser esportivo, mas é político e binário.

Desta forma, como menciona Tony Blair, o ódio é uma fonte de atração. Indignados com a escalação de um atleta que jogou mal, os jornalistas permanecem ali, por dias, em cima de um palanque com seus microfones ligados, esbravejando críticas e mais críticas, fingindo estarem em conflito uns com os outros sobre a preparação física de jogadores que trabalham em um clube profissional que os coloca em partidas de 3 em 3 dias.

Há alguns dias atrás, ouvi um comentário que explica muito bem este fenômeno. O Internacional de Porto Alegre publicou uma nota sobre a lesão de um jogador. O comentarista diz: “A gente tem que elogiar a nota sincera do Inter, mas o que a gente pode criticar aqui?” E ele passa o microfone para o colega tecer alguma crítica que precisava ser feita, pois esse é o modus operandi da imprensa.

O jornalismo se transformou em um entretenimento, e a vida da maioria das pessoas tem se dividido entre aguentar um trabalho e fugir para as redes sociais.

A imprensa não contribuiu para a expansão dos assuntos sociais. Ela é uma demonstração social e jamais foi uma agente de evolução mental ou intelectual. A ideia, muito bonita, de que existe um jornalismo imparcial simplesmente não existe, nem nunca existiu. A mudança na intelectualidade surge dos estudos, da leitura aberta e da compreensão de que sabemos quase nada sobre tudo e que os homens mais sábios do mundo ingressam com muita cautela em qualquer assunto que se debruçam.

O jornalismo tem sobrevivido da raiva e as pessoas têm se alimentado dela. Algo muito parecido com o momento de ódio que George Orwell mencionou em 1984.

A imprensa é um arauto da discórdia. Se você quer saber de alguma coisa, leia um livro, estude ou fique em silêncio.

O silêncio, que saiu de moda, é uma das maiores fontes de sabedoria.

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