Vitórias são determinantes para qualquer plano em nossas vidas. Pense no projeto mais comum em que milhões de pessoas embarcam a cada segunda-feira: acordar cedo. Para vencer esse desafio, essa competição entre instintos e a explosão do despertador, é necessário superar a preguiça e levantar no exato momento em que recebemos o primeiro impacto do dia. Sem isso, sofreremos a primeira derrota de um dia que mal começou.
No entanto, ao termos uma estratégia e um objetivo global, precisamos considerar um ingrediente central que, de maneira impressionante, nunca nos abandona, mesmo nos nossos maiores devaneios de grandeza: a realidade. Ao encarar a realidade, somos levados a criar um plano que evolui a cada dia, a cada momento e treinamento. Quando abrimos os olhos para a realidade, tudo muda, e entramos em uma dimensão mais justa e, de certa forma, tranquilizadora. O músculo cresce de forma saudável com o trabalho diário, sem o “suco”.
A realidade é um conjunto de capacidades, situações, competições, treinamentos e muita preparação. Nada escapa da realidade. Quem não cuida dos joelhos sofre com dores nos joelhos; é a regra. Nada além disso pode ser feito. Quem não trabalha diariamente não adquire habilidades em coisa alguma. E quem não considera a realidade jamais vence.
Temos uma visão contaminada pela publicização das coisas. A imprensa esportiva não possui muitos ingredientes para entreter o público sedento por algum ‘osso’ para roer. O sensacionalismo e a falta de proporção nos comentários ditam esse negócio. Além disso, podemos incluir aqui a falta de capacidade técnica dos jornalistas. Dessa forma, elogiar o trabalho que não foi vencedor não acende nenhuma emoção nos torcedores. Aceitar a realidade é algo que não gera engajamento. Aceitar que há limites, que o time trabalhou, que os jogadores fizeram o que podiam, não inflama o orgulho dos torcedores. Torcedores irritados e perplexos com o seu time desejam ouvir mais sobre o próprio time. Nem digo que são notícias sobre o time, pois não são.
“O sucesso parece legitimar cada pequeno elemento de preparação, enquanto o fracasso muitas vezes mina valiosas insights ou inovações.”1
Quem vence não fez tudo certo, da mesma forma que quem perde não fez tudo errado. Existe um plano, uma estratégia e um objetivo global. Na maioria das vezes, a realidade nos oferece limites intransponíveis e não aceitá-los é, sim, uma grande derrota. Quando não aceitamos a realidade, tentamos treinar mais do que nosso corpo aguenta, sofremos lesões. Tentamos contratar jogadores mais caros do que podemos pagar, caímos em dívidas. Tentamos mudar de estratégia e projeto quando o desespero aparece, e somos rebaixados para divisões inferiores.
Essa, sim, é uma grande derrota.
- Brownlee, Alistair – Relentless, Secrets of The Sporting Elite ↩︎