Quando duas pessoas enxergam a mesma coisa, podemos imaginar que aquilo é real. No entanto, podemos questionar a forma como as pessoas estão enxergando, pois não temos como acessar a mente uma da outra. Dessa maneira, a ideia de que tudo é relativo torna-se plausível e parece, inclusive, verdade. Uma verdade que não pode ser questionada, pois reside somente na mente da outra pessoa, e, caso abracemos esse conceito, teremos que aceitar que o que alguém está pensando é a verdade para ela, portanto, é um tipo de verdade e, nesse caso, a verdade teria muitos tipos, tantos tipos quanto humanos caminhando na terra.
Esse mecanismo de avaliação serve para que tenhamos humildade no momento em que tentamos entender as atitudes de outras pessoas. Algumas ações parecem ser ancoradas em uma base irracional do indivíduo. Muito se fala em compras por impulso e em diversas outras atitudes. Porém, não podemos afirmar que comer lanches gordurosos é obra do impulso irracional, tampouco a violência. Sempre haverá razões. Sempre.
Quem pode dizer para alguém que o melhor é comer salada ao invés de alimentos processados? Podemos, sim, afirmar que saladas são mais saudáveis e que, caso ele queira ter uma vida mais longa, seria melhor ingressar para o time dos saladeiros. Mas, quem poderá dizer que ter uma vida mais longa é o melhor para essa pessoa? Não podemos.
Muitos argumentos estão ali, exercendo seu papel de advogados de atitudes. Atitudes que vêm desde o berço. Lutar contra os alimentos processados para ingerir saladas exige uma luta e uma decisão que oferece recompensas. Mas a recompensa que os alimentos processados oferecem, certamente, é maior do que a de uma vida saudável. Caso contrário, ele não hesitaria em largar os alimentos processados.
Para que uma nova decisão seja tomada, o sujeito precisará reestruturar alguns pensamentos e traduzir algumas palavras por meio de outros conceitos. Será preciso romper com uma série de ideias que já estão enraizadas no comportamento, e a dor pode ser grande, o desgaste ainda maior, e a recompensa só virá a longo prazo.
Dessa forma, podemos enxergar que não parece um negócio tão óbvio e atraente assim ter uma vida longa e abdicar dos alimentos prejudiciais. Mas o fato de que um indivíduo tenha sua própria estrutura de pensamentos, e que essa estrutura é particular e única, não significa que a verdade é relativa. A verdade é que ele irá se tornar obeso, com problemas renais, no sangue, no estômago e assim por diante. Terá menos disposição e o coração terá problemas logo no início da terceira idade. Isso não é relativo. Esses argumentos representam o nível de descobertas que já encontramos. Estamos em busca da verdade completa, porém, chegamos somente até aqui.
Muita gente mistura a ideia sobre a verdade com o fato de que as descobertas científicas se alteram com o passar do tempo. As descobertas são resultados de processos longos, e a verdade se descortina a passos lentos. Não encontramos a verdade completa sobre a maioria das questões humanas, talvez nunca encontraremos, mas estamos caminhando. A Terra já foi plana, o Sol já circulou em volta da Terra. Hoje não mais. Isso não significa que a verdade mudou. Significa que nos tornamos mais sábios.
A verdade não é relativa. Ela possui a capacidade de derrubar qualquer história, por mais bem contada que seja. A verdade, simplesmente, é. Considerando esse problema de traduzir e definir alguns termos antes de iniciar qualquer debate, uma situação que exige esforço, alguns intelectuais, péssimos ou mal-intencionados, deram conta de divulgar que a verdade é relativa. Esse é um dos maiores equívocos, muito bem divulgados, que pode levar milhares de pessoas à ruína.
Algumas gerações já abraçaram a luta pelo direito de não ouvir certas palavras com o pretexto de que são ofensivas. Esse comportamento não passa de uma declaração de que será considerado ofensivo qualquer argumento que pretenda interferir na “verdade” na qual eles acreditam. Ou seja, na verdade sentida e não observada e comprovada na realidade.
Dessa forma, temos milhares de pessoas enganadas que ficarão presas em si mesmas por não suportarem argumentos concretos que sugiram que algum comportamento possa ser considerado bom ou não.
Trata-se de alçar o significado de um simples ponto de vista, individual e repleto de vieses cognitivos, para o patamar elevadíssimo de uma verdade. O ponto de vista, sim, é relativo. Eu vejo daqui de onde estou e você enxerga daí de onde você está. Eu possuo minhas experiências, meus livros, minhas ideias, e as usarei para observar o que estou observando. Você, daí de onde você está, fará o mesmo e, dessa forma, enxergamos coisas diferentes. Isso é o ponto de vista.
Mas a verdade não tem relação alguma com o meu ponto de vista. A verdade sempre seguirá sendo um objeto imutável e escondido em meio à nossa ignorância. Meu ponto de vista, sim, pode mudar.
Eu não construo a verdade, eu procuro a verdade. Essa é a grande diferença.
Quando ateus procuram divulgar essa ideia, eles não imaginam o estrago que estão ajudando a causar. Para atender a uma demanda interna, uma ansiedade humana, que é a necessidade de sentido, eles se abraçam a uma ideia de que a linguagem religiosa é criada e propagada por homens e homens são corruptos e são guiados pelo poder. Veja bem, é um ótimo argumento que é facilmente constatado na primeira observação atenta sobre os homens.
Não há esforço para concordar com isso. Homens são corruptos e homens lutam por poder. Isso é fato. Isso é verdade. No entanto, a linguagem religiosa não é criada para atender a essas demandas, pelo contrário, ela é um esforço de homens para fugir da corrupção.