Grande parte das nossas atitudes podem ser explicadas pela psicologia/psiquiatria mas a resposta nunca será simples, nunca será fácil de lidar com as descobertas sobre si mesmo. Saber a verdade é um problema, um problema bom, mas sempre será um desafio. Seguir sem mudar as atitudes é o mesmo que confirmar que somos guiados por medos e receios sobre os desafios que a próxima fase pode apresentar. E mudar para resolver os equívocos significa embarcar em uma jornada com novos desafios que nos surpreenderão logo em seguida.
De qualquer forma, mesmo com todos os tropeços que todo mundo comete, alguns breves momentos são centrais na vida de qualquer pessoa. Pequenas frações da existência em que a vitória ilumina o cérebro com uma espécie de camada brilhosa, uma vitamina, um nutriente para as ideias. A nossa consciência se eleva na vitória. Alguns, mal treinados, imaginam que adquiriram a condição de ganhar a medalha com sobras. Os bem treinados compreendem que conseguem ganhar, por um passo, um gol, um ponto. Mas, eles conseguem.
As pequenas vitórias podem impulsionar uma vida simples para dezenas de outros bons momentos, mas também pode aprisionar o vitorioso desavisado na paixão de se sentir-se no topo. Mesmo assim, a vitória sempre será um momento de iluminação.
Lembro como se fosse hoje, com riqueza de detalhes, daquele pequeno campeonato do colégio em que meu time, composto por jogadores com 13 anos de idade, venceu a final contra um time com jogadores de 15 anos. Nós vencemos pela vontade e determinação de vencer. Aquele dia ficou gravado na alma de todo o time. Foi uma vitória rara, raríssima; aliás, depois daquele campeonato ninguém daquela turma vivenciou algo parecido. Alguns tiveram filhos, constituíram famílias e, mesmo assim, aquele dia nunca foi esquecido e sempre é lembrado nos encontros. Foi um momento de iluminação verdadeira. Nós pensamos em vencer, e conseguimos. Nós trabalhamos pela vitória, e conseguimos. É possível vencer.
A alegria que vivenciamos na vida cotidiana pode ser tão passageira quanto inútil. Mesmo que seja, de fato, importante para nossa família e amigos, durante um ano comum participamos de festas, encontros, reuniões, cinema, consumimos bebidas e alimentos em restaurantes, compramos coisas e nos inscrevemos em cursos, e nada disso brilha como uma vitória genuína.
Os obstáculos que surgem no nosso campeonato individual são sinônimos de luta e quando são superados representam vitórias sólidas. Sentir o prazer do foco total, da concentração plena e da determinação para alcançar o objetivo é uma dádiva; é a pressão que eleva o ser humano. É a vitória representada na entrega de um diploma, na promoção de um trabalho, na finalização de um projeto, na concretização de uma família. E esses momentos são raros, tão raros quanto são determinantes.
Em inglês, a palavra é “enlightenment” e me parece ainda mais adequada para esses breves momentos em que chegamos à “final de um campeonato.” Não existem proporções para o “enlightenment”, seja no campeonato da escola, seja na Copa do Mundo, seja em um desafio pessoal; “enlightenment” é o resultado de uma vitória real e a alma vai brilhar naquele dia. Aquele dia será um marco histórico na timeline de quem venceu.
Porém, na maior parte do ano, da vida, esses momentos de iluminação representam uma meia dúzia de dias. #enjoy