“Influenciadores imitam personagens de games e usam vozes infantilizadas para se comunicar. A canadense PinkyDoll diz que ganhou R$ 15 mil durante a live. O youtuber Felca conseguiu 1 milhão de seguidores em 4 dias.”
G1
Como costumamos dizer por aqui, todo e qualquer problema social é individual, e toda e qualquer ação individual é refletida na cultura em que esse indivíduo está inserido. Dentro das ciências econômicas, utilizam-se os impostos para incentivar ou reprimir a produção e o consumo de certas coisas. Altas taxas para os cigarros, pois eles são considerados nocivos para a saúde das pessoas, baixas taxas para a produção de energia solar, pois ela é considerada benéfica. Sem nenhum juízo de valor sobre o que é ou não correto, mas considerando todo e qualquer imposto uma espécie de roubo legalizado, as atividades de produção, inevitavelmente, passam pelo filtro dos incentivos e das repressões. É assim que os pais criam seus filhos, e é assim que um povo produz a sua cultura.
No âmbito cultural, as taxações sociais, retaliações e aplausos que recebemos por certos comportamentos incentivam as atividades e direcionam as atividades. Quando alguma catástrofe acontece, como as enchentes recentes no Rio Grande do Sul, a população se une para ajudar de alguma forma as pessoas que estão sofrendo com a situação. Essa é uma atitude que recebe aplausos e possui uma espécie de selo de qualidade social. No entanto, outras tantas atitudes que recebem aplausos podem destruir os recursos de uma nação inteira, e nesse momento, milhares de jovens desperdiçam suas mentes (recurso) dentro de uma roda de infantilidade eterna. O TikTok e as Lives NPC são apenas um elemento.
As redes sociais produziram benefícios para a humanidade, mas os efeitos colaterais estão superando de longe os benefícios. Os incentivos em forma de curtidas e seguidores são para danças grotescas, uma espécie de dança do acasalamento coletiva, ou alguma atividade infantil. As Lives NPC são uma tendência do TikTok voltada para que os youtubers recebam doações. Algumas notícias dão conta de que vários já ficaram milionários com essa atividade, e ganhar boas quantias não é impossível. Nessas lives, eles imitam personagens de jogos online e como se trata de personagens sem diálogos, com poucas frases, as lives são uma espécie de festa do rebaixamento humano, com jovens repetindo frases e movimentos sem sentido enquanto recebem as doações dos espectadores. A dúvida que fica é cruel: pensar em quem está sofrendo mais, se os youtubers ou os espectadores desse conteúdo.
Não há dúvidas de que existe um espaço vago no coração e na mente dessas pessoas. E como diz o ditado: “Casa vazia, oficina do diabo.”
Voltando aos impostos, é como se os jovens fossem incentivados, de maneira sutil, a agir com tal comportamento. Esses jovens fazem parte de uma geração que se tornará profissional, pais, mães, chefes e gerentes em breve. Isso significa que esse tipo de comportamento irá moldar o futuro próximo.
Não se trata de banir algumas coisas e obrigar outras. Nossa única chance nessa batalha é lutar internamente contra nossas próprias tendências e vícios. A vitória social acontece quando um indivíduo, que é parte de um todo, vence suas batalhas internas e assume o controle da própria vida.
E qualquer forma, é difícil encontrar uma criança triste porque a escola está em greve ou fechada por causa das enchentes. Elas comemoram os dias que não precisam ir para escola pois elas não gostam mais de ir à escola. Mas elas gostam muito de ir ao TikTok e é claro, é óbvio que existem muitas exceções, e elas não explicam a infeliz regra que estamos vivenciando: a degradação cultural do nosso povo.
A banda Pink Floyd, nos anos 70, já refletia sobre as consequências óbvias de obrigar as crianças a assistirem aulas padronizadas. Algo contraproducente, estranho e com um certo toque maligno por trás de tudo isso. Padronizar crianças dentro de um sistema único de educação não teria como dar certo. E não deu. O resultado é que, ao reclamar de investimentos na educação, ninguém cogita averiguar se as crianças desejam receber tais instruções.
A cultura é o grande termômetro de tudo, e é por meio dela que podemos enxergar o nosso povo e as nossas ações individuais. Uma tendência como a Lives NPC é um indicativo de febre. Uma infecção já está instalada em nosso corpo social, caso não seja tratada com algum antibiótico potente, será difícil curá-la.
Os métodos que sempre funcionaram contra esse tipo de febre foram esquecidos ou descartados, deixando um vácuo cultural para os indivíduos. E a sabedoria antiga é clara: casa vazia, oficina do TikTok.