A grande finalidade do ser humano parece ser a de descobrir o próprio destino e os meios de transporte que serão utilizados nessa jornada. Geralmente começamos a pé e terminamos sendo carregados dentro de uma caixa de madeira.
O ser humano é um projeto inacabado que só encerra a sua formação com o último suspiro. Ninguém nasce finalizado e, infelizmente, algumas pessoas decidem interromper essa formação antes do minuto final. Ninguém deveria decidir parar de se transformar. Até mesmo Jesus Cristo passou por provações e tentações até chegar ao seu destino.
A caminhada do ser humano é muito menos parecida com um passeio turístico do que com uma guerra. Aliás, essa é a grande guerra; o resto são batalhas. Um ser humano em formação representa a guerra total e toda a “indústria” deve fornecer subsídios para as batalhas que surgirão no caminho. Ou seja, tudo o que trabalhamos em nossa vida, seja no campo espiritual e afetivo, seja no campo material, tem o objetivo de nos fazer vitoriosos nessa guerra.
Como sempre, ressaltamos a importância de se desvendar os inimigos reais. É evidente que há uma série de péssimas influências no mundo em que muitas pessoas acabam tropeçando e aceitando tais premissas como seu próprio destino. Existe o crime, existe a violência e a corrupção, e se há pessoas lutando dessa maneira, seremos levados a lutar contra esse mal. E, ao que tudo indica, é assim que o mundo funciona.
A ignorância também pode ser culposa e se existe o inimigo físico, que assume práticas perversas e criminosas, seja aos olhos da lei, seja aos olhos de Deus, é mais um ingrediente da jornada humana. Questionar os motivos da existência de algo que existe e que cresce na medida em que deixamos de agir corretamente, é fruto de ignorância, mas do tipo que gera culpa no ignorante. A realidade possui uma estrutura, pode ser percebida e observada. Negá-la é uma espécie de crime, talvez não seja aos olhos da lei dos homens, do direito e afins, mas aos olhos de Deus, é um erro grave.
Nosso foco são os inimigos que nos fazem pequenos e nos destroem por dentro. Ideias equivocadas que nos confundem sobre o destino de nossas ações, heresias sobre a vida que parecem boas mas carregam resultados perigosos. Essas ideias precisam parecer boas para funcionarem e são essas ideias que representam os principais mísseis do adversário. Imagine uma placa de sinalização no momento de encruzilhada. O sinal diz que o caminho é para lá, sendo que não é. Dependendo do tempo que levar para compreender o erro, pode ser mais custoso voltar ao início do que seguir até o precipício.
Nossos primeiros passos, diferente dos animais, representam uma espécie de observação sobre para onde e como iremos ingressar na jornada. Talvez até aos 20 anos de idade, a maioria das pessoas ainda não tem a compreensão sobre si mesma e ao se questionar sobre o sentido da caminhada, a dúvida pode corroer todo e qualquer plano e iludir qualquer um sobre suas próprias metas.
“Conhece-te a ti mesmo.”
Frase que constava no pórtico de entrada do templo do deus Apolo, na cidade de Delfos na Grécia, no século IV a. C.
Somente conhecendo os lugares da própria alma, dos mais iluminados aos mais sombrios, é que podemos seguir em frente com a certeza de que estamos indo para o lugar certo. Normalmente, reconhecemos nos outros uma série de problemas e tratamos de combatê-los no exterior mais do que em nossa própria vida. Enxergamos no outro algo que está em nossa alma, lá no fundo, mas como não gostamos de perceber tais problemas em nosso próprio comportamento, depositamos as críticas no outro. É fácil alegar que jamais faríamos tais coisas, como roubar, matar, desistir da família, entregar-se a vícios, entre tantos outros descaminhos possíveis a qualquer ser humano. Contudo, todos esses aspectos moram no coração de todos nós. E eles podem estar protegidos, dentro de um domo de medo, cultura e intelectualidade, mas estão ali submersos, aguardando nossos momentos de fraqueza. É quando vemos pais de família, calmos e serenos, perdendo o controle em uma briga violenta no trânsito, agressões e manipulações de casais, e uma imensa gama de possibilidades em que somos atacados por problemas que pensávamos não ter.
Como se fosse um míssil teleguiado que acerta exatamente onde precisava acertar para destruir nosso sistema de defesa. A única forma de se proteger desses ataques é visitando os lugares sombrios da própria alma.
O mal, negado em nós, eclode como um vulcão que estava adormecido por décadas. Negligenciado, ele foi deixado de lado e muitas casas foram construídas em sua volta.
Nosso foco aqui pode parecer o desenvolvimento da mente baseado em circunstâncias do esporte, quando na verdade nosso foco é o desenvolvimento do próprio ser humano em direção a um destino específico e pré-estabelecido. Um enigma que nos foi dado ao nascer e, com o passar dos anos, algumas pistas vão surgindo no caminho em forma de talentos, habilidades e inspirações, que vão nos indicando a direção correta. Estas pistas são as partes iluminadas da nossa alma. No entanto, a escuridão sempre estará à espreita, como o cemitério de elefantes do reino do Rei Leão. Não se deve ir até lá sem as ferramentas para lutar contra as hienas. É preciso conhecer a si, desenvolver-se e enfrentar os inimigos no tempo certo.
Voltando ao esporte: Qual teria sido a escuridão que tomou conta de Zidane na Copa do Mundo de 2006 para dar aquela cabeçada no Materazzi?