O ciclo olímpico de 4 anos representa um desafio para atletas de elite, que oferecem inspiração aos amadores da vida cotidiana. Manter o foco na melhoria durante 4 anos não parece ser algo natural, que nosso corpo solicite por instinto. No entanto, para ter um bom desempenho nas Olimpíadas, o atleta passou por 4 anos de treinamento planejado para se apresentar da melhor maneira possível nos dias das provas. Foram 4 anos de conflitos entre fazer o certo e tropeçar no erro.
Não se trata apenas da busca por uma medalha no pódio, que está distante, 4 anos no futuro. Durante esse período, muitas coisas podem acontecer. Em nossa humilde rotina semanal, já percebemos a influência de fatores externos que podem enfraquecer nossa determinação, nos desviar para outros caminhos e nos fazer esquecer o que realmente desejamos em nossas vidas. Imagine na vida de um atleta olímpico que está diariamente treinando sob os olhos de profissionais dedicados a descortinar os erros e aperfeiçoar cada detalhe.
Mas, sem perceber, podemos cair na armadilha de acreditar que esses atletas olímpicos vivem vidas radicalmente diferentes das nossas. Nessa armadilha, acreditamos que eles têm objetivos esportivos claros e desfrutarão de benefícios concretos, como fama e riqueza. No entanto, isso é um equívoco em todos aspectos.
Primeiro, a maioria desses atletas não recebe quantias que os coloquem em um “Olimpo dos deuses” para viverem o resto de suas vidas colhendo os frutos de suas conquistas do passado. Em média, eles recebem salários comparáveis aos de trabalhadores comuns. Além disso, a fama é poeira, que desaparece ao toque da menor brisa.
Segundo, e o mais importante, nossas vidas cotidianas são cheias de objetivos, exatamente como a de um atleta olímpico, mas que frequentemente deixamos de lado em busca das distrações e chamados do mundo.
O foco no treinamento cotidiano, mesmo em nossas vidas comuns, é frequentemente visto como uma restrição às gratificações imediatas que o mundo nos oferece. Coisas tão simples como evitar o álcool são consideradas privações dolorosas, e é comum ouvirmos: ‘Não seja tão duro consigo mesmo, relaxe! Tome mais uma!
Mas e o futuro que nos aguarda? E nossos objetivos pessoais? Agiríamos de maneira diferente se houvesse uma recompensa garantida ou a promessa de fama?
Parece que perdemos de vista nossos próprios projetos individuais, nossos caminhos intransferíveis que só nós podemos percorrer. Parece que pensamos que a fama e dinheiro deveriam nos ser entregues quando superamos nossos obstáculos. Nosso desejo seria o de ser aplaudido e remunerado por vencer nossos próprios obstáculos.
Assim, observamos os atletas pela tela de algum dispositivo, julgando que nossas vidas são comuns e dignas de apenas mais um copo de cerveja, mais uma série na “televisão”, e mais um ano sem cumprir as metas que imaginamos no dia 31 de dezembro.
Nós, brasileiros comuns, ao que tudo indica, valorizamos mais a exibição de uma medalha no peito do que a satisfação pessoal e profunda de conquistar a própria forma de viver a vida. Preferimos o conformismo das massas ao invés do sabor da vitória experimentado pelos grandes vencedores.
Homens e mulheres, quando amadurecem, não podem se dar ao luxo de desperdiçar seu tempo de vida em atividades sem sentido. Não deveria ser comum desperdiçar nossa energia em ações sem amor, sem compreender que o nosso maior potencial não precisa de medalhas nem de remuneração para existir.
O sucesso não é fama, mas a realização bem feita das coisas que podemos fazer em nossa vida.