Quando técnicos, colegas e familiares apontam falhas — e como usar isso para evoluir.
Colegas de equipe, treinadores, preparadores físicos e familiares conhecem a rotina e as dificuldades do atleta. Essas pessoas conhecem o contexto e sabem das falhas de comportamento que atrapalham a evolução daquele indivíduo. Por exemplo, os pais sabem que o filho dorme tarde, não vem se alimentando bem, anda triste. O técnico sabe que o passe com a perna direita ainda não está bom e que o comportamento nos treinos é desfocado. Os amigos sabem dos hábitos “desalinhados” do jovem.
As Críticas de Nível 2 são feitas por pessoas diretamente ligadas ao crescimento profissional do atleta. Pessoas que observam os bastidores da vida do jovem e, por isso, podem fazer críticas muito mais fortes, incisivas e certeiras.
Como já falamos por aqui, um jogador de futebol não vive uma vida qualquer. Ele precisa amadurecer mais rápido do que as pessoas comuns. E aprender a lidar com essa segunda camada de críticas é fundamental para elevar o nível profissional de um atleta.
O objetivo é levar essa camada na “esportiva”, ou seja, colocar esse mecanismo a trabalhar para o alto desempenho. Não é nada pessoal. Nem deve ser. Quando for, você apenas deve virar as costas, pois há muito trabalho a fazer. Melhor investir tempo em você mesmo.
Quando o jovem entra na esfera profissional, as conversas sobre ajustes técnicos e de comportamento diminuem. O jovem que não aprende a “ler” os sinais, a “ouvir” os comentários e a “sentir” o ambiente pode ter muitos problemas na fase profissional. Da mesma forma, pais, amigos, familiares, colegas e comissão técnica não têm mais tempo para lutar contra as barreiras que você criou para evitar críticas.
Você não quer ficar magoado, quer viver a vida imaginando coisas. Todos compreendem isso.
Mas pense no técnico. Ele precisa falar com cerca de 30 jogadores. Não há como, durante uma temporada, conversar separadamente com todos sobre ajustes, comportamentos e atitudes em campo. Em muitos casos, as críticas surgem em uma explosão de raiva depois de um erro repetido pelo atleta.
Isso é bom, isso é correto, é assim que deve ser?
Não importa. Quando o atleta está focado em seu crescimento, precisa observar os sinais. A reclamação do técnico é apenas mais uma crítica pesada. Mas ela é uma fonte de crescimento, se você não levar para o lado pessoal.
- O que está errado no meu jogo?
- É o técnico ou eu realmente posso melhorar?
Da mesma forma, pais e mães, quando comentam coisas simples como: “Tu não sai desse celular!”, estão fazendo uma crítica de nível 2, com contexto e sobre o comportamento. Você pode abraçar esse comentário como ingrediente de crescimento ou pode se proteger atacando, fugindo e fingindo que não é com você. Um desses caminhos leva ao crescimento; o outro, não.
O problema da vida adulta é que nós começamos a criar defesas contra críticas. Ninguém tem prazer em ouvir comentários sobre o nosso mau desempenho. Elas machucam. Mas precisam ser ouvidas, pois, muitas vezes, ficamos cegos sobre nós mesmos. Essas pessoas próximas funcionam como um espelho sincero.
Nós precisamos delas para crescer.
É por isso, também, que as piadas dentro do grupo tornam-se ácidas e comuns. Com o humor, consegue-se falar mais coisas. O humor é uma forma de vencer a barreira de proteção.
Mas, de qualquer forma, será preciso atenção e um exercício constante de pensar mais na mensagem do que no mensageiro. Deixem de lado quem está falando e foquem no que está sendo dito.
Um exemplo clássico é o de Michael Jordan, que foi cortado do time quando tinha 15 anos. Ele ficou trancado no quarto por uma semana. A tristeza era tão grande que ele não podia suportar a dor dessa crítica na sua cara. Esse corte trouxe a mensagem: “Você não serve para jogar basquete.” Aquilo doeu tanto que o levou para um lugar de amargura. Mas depois de “respirar” ele colheu frutos dessa crítica: “Eu não sirvo hoje. Me aguarde daqui a um ano.” O fim da história todos sabem: ele tornou-se, talvez, o melhor de todos.
Outro exemplo, mais próximo, é o de D’Alessandro. O pai dele sempre o levava aos jogos. Mas nunca comentava nada sobre ele jogar bem ou não. Apenas ficava em silêncio quando ele jogava mal e conversava com ele quando jogava bem. Mas nunca disse diretamente que ele era bom.
D’Alessandro, emocionado, depois de encerrar a carreira, disse que o pai nunca falou pronunciou a frase.
Não podemos julgar o comportamento do pai. Ele conhecia o garoto, conhecia o potencial e talvez tenha feito o que pôde — o certo — para desenvolver as habilidades daquele atleta, que se tornou um grande jogador, vencedor, destemido e mentalmente forte.
O pai dizia “não está bom”, sem falar nada. D’Alessandro ouvia: “Ainda não estou bom o suficiente.”
- “Eu vou continuar. Você vai ver.”
Eu consigo imaginar o pai contendo o riso na cama, antes de dormir, lembrando das jogadas do filho. Eu confio que certamente ele sorriu muitas vezes com a atuação do garoto. Muitas vezes pensou que o filho era bom de verdade. Mas conteve as palavras para não enfraquecer a alma do atleta vencedor que vivia em sua casa.
As Críticas de Nível 2 são feitas por pessoas próximas. Não as leve para o lado pessoal. Trate-as como espelhos cristalinos que irão ajudar vocês a alcançar o nível que podem alcançar.
A vitória começa na mente, todos os dias, na hora em que você se levanta.