Marcelo Bielsa, um consagrado técnico argentino, ficou mais conhecido pelo estilo do que pelas vitórias, e mesmo assim, impactou o rumo da estratégia do jogo. Conquistou a medalha de ouro pela seleção do seu país, alguns títulos pelo Newell’s Old Boys e nada mais.
A disciplina era a base dos trabalhos de Bielsa, mas os resultados desse trabalho eram previsíveis. Os jogadores não suportavam o regime Bielsa de treinos e mentalidade. O gráfico se dava da seguinte forma: o começo era conturbado e irregular, pois os atletas precisavam de tempo para compreender o estilo de marcação e ataque. Em seguida, o futebol se tornava vistoso e enérgico, o que trazia vitórias e convencia espectadores, para meses depois o desgaste resultar em derrotas nas fases mais importantes dos campeonatos.
De qualquer forma, o estilo de jogo, a estratégia e o pensamento filosófico por trás de Bielsa são percebidos com valores a serem considerados, e uma frase ficaria gravada na história do futebol: “Se não fossem humanos, eu não perderia nunca.”
Talvez ele afirmasse isso com base nos estudos constantes e análises criteriosas sobre adversários e aspectos do jogo. Mas, nesse sentido, podemos também imaginar um lugar para a ascensão dos esportes eletrônicos. Uma febre que pode ser o resultado de uma infecção generalizada derivada da falta de espaço e confiança que as crianças vivem nos dias de hoje para executar tarefas físicas e esportivas, mas, além disso, também pode representar o início de algo mais parecido com o Xadrez do que com o futebol.
Em algum ponto da estrutura teórica do jogo, o futebol se parece muito com a gestão de recursos humanos que qualquer empresa precisa exercer. Faz parte do jogo saber lidar com o material humano de uma equipe. Não são robôs e mesmo que cada peça possua uma função, o comportamento dessa peça é obra e decisão do indivíduo. Essa é a beleza do jogo.
O Xadrez pode ser um esporte popular na Rússia, Ucrânia e China, mas o futebol é popular no mundo inteiro e é muito provável que seja por conta da imprevisibilidade humana. Não basta orientar a posição de um Cavalo, Torre e Peão, é preciso considerar a atitude que cada peça irá tomar dentro de campo. Por mais que um técnico rígido queira lidar com um peão de forma genérica, sem considerar suas peculiaridades, são humanos que pensam e reagem de forma diferente.
Um grande técnico de futebol, além de conhecer o jogo, é um grande gestor de mentes. Debruçar-se sobre teorias e treinos não basta. O grande técnico conhece mais do ser humano do que sobre futebol.
Dois elementos se unem para criar a imprevisibilidade: a direção que uma bola acaba tomando e a decisão de 22 pessoas sobre o que fazer a respeito disso.
Não são robôs, Bielsa.