Se o homem é a imagem e semelhança de Deus, e não conseguimos enxergar Deus face a face, a imagem do homem natural é o que há de mais sagrado para os olhos humanos. Portanto, ao ser corrompida ou confundida a ideia de um homem natural, com seus objetivos já previamente implantados em sua natureza, perdemos o contato direto com nosso Criador.
Um homem submisso à sua natureza é o que há de mais precioso nesse mundo. Ele, naturalmente, sabe para onde está indo. Mas observe ao seu redor e será possível enxergar uma natureza humana sendo esmagada como quem tenta segurar a pressão da água de uma torneira com a força das mãos. A água sempre escapa. A natureza sempre escapa. O problema é que escapa em lapsos de comportamento e esses são confundidos e misturados ao ponto de ninguém mais saber o que é o certo e o errado para uma pessoa ser. A linguagem tornou-se tão obscura que já não há mais ferramentas para identificar o que está acontecendo conosco. Onde mora o bem?
Novas fórmulas foram pensadas e divulgadas com muita publicidade sobre trabalho, amizade, relacionamentos, realizações e objetivos. Como em uma roda de ratos ansiosos, pouca gente para para se perguntar o que está sendo feito e começam a caminhar. Os poucos que se perguntam já não conseguem encontrar palavras para descrever a realidade e logo começam a caminhar também.
Mas a poltrona que o ser humano recebeu para assistir ao show da realidade é muito diferente da de um rato ou de qualquer outro animal. Somos a imagem e semelhança do Criador e existe uma realidade concreta e objetiva para admirarmos. O que enxergamos é a natureza humana projetada e guiada pela programação divina. Nós fomos pensados e programados e existe um bom funcionamento desse programa. Existe uma forma certa de sermos humanos.
Tudo que nos desvia do bom funcionamento é corrupção. Seja nos mais altos escalões de engenharia linguística e perversa dessas filosofias pasteurizadas que buscam mudar a trajetória das águas sociais. Ideias essas que buscam incentivar mudanças de comportamentos como se fôssemos passíveis e desejássemos nos adaptar constantemente. Uma ideia de evolução das espécies sociais que nos faz mudar os padrões de comportamento a cada nova geração, confundindo tudo e a todos.
O problema da corrupção da linguagem é que ela é acessível a qualquer tirano, por menor que seja, e ela invade o coração dos mais fracos. Passamos a ter dificuldades de reconhecer o que de fato desejamos para o bem. Como se em algum momento dessa breve vida pós-moderna tivéssemos questionado as funções de homem, mulher, hierarquias, disciplinas etc. Como se tivéssemos, em algum momento, naturalmente questionado o problema da circulação da palavra pecado, demônio e salvação.
O problema do homem comum é que ele é comum por natureza e, sem instituições como a família, torna-se assim vulnerável aos agentes de transformação cognitiva que o atacam. Portanto, sem defensores, jamais haverá o homem comum. Esses combates ideológicos que ocorrem no campo das ideias e dos discursos precisam ocorrer em nome do homem comum, em defesa do bem natural e não na defesa de si próprio e da falsa liberdade de viver a vida de forma isolada.
Para defender o homem comum seria preciso antes tornar-se um homem, depois comum, para em seguida amá-lo com todas as forças ao ponto de sacrificar a própria vida para salvar o que há de comum nos homens. Esse salvador torna-se incomum, um mártir, um líder imutável e onipresente. Torna-se um espírito que vaga pela terra soprando ideias comuns para apaixonar homens que possam amar o ser comum e lutar por essa natureza divina implantada em nossos corações.
A corrupção da palavra é apenas o que eu vejo daqui. Certamente já estou muito distante desse homem comum. Já estou contaminado por confusões linguísticas e algumas ideias opostas à minha natureza já estão enraizadas no âmago do meu ser ao ponto de não percebê-las e até de lutar por elas. Faltam palavras para descrever exatamente o que há por trás de toda essa confusão. Existe apenas a certeza de que em Deus, seja Ele no verbo, na carne, no espírito, é que está a retomada do homem natural que vive em mim. Nesse momento, apenas percebo que me falta amar o natural, ou seja, me falta enxergar as palavras certas que estão gravadas na minha alma, como um mapa do tesouro explica o caminho para um viajante.
Tenho certeza de que a palavra certa ilumina o caminho, mas ela não elimina os perigos nem os piratas da linguagem.
Gostei. Muito bom o texto. Elucidativo ao mesmo tempo um chamado ao combate. Nunca é tarde para corrigir.