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Soberania e Território

Posted on 12 de dezembro de 202312 de dezembro de 2023

Quem não defende o próprio território estará fadado a viver no submundo da própria existência.

José Ortega y Gasset

Sem estruturas convencionais ou visíveis que possam nos orientar sobre o que somos e para onde devemos ir, o território tornou-se, mais uma vez, depois de tanta civilidade, nossa única referência.

Há bem pouco tempo, tínhamos credenciais, cargos profissionais estáveis e um sistema econômico aparentemente fluído. Hoje, os cargos mais estáveis vivem o que os artistas sempre viveram. Eles precisam conquistar e lutar para manter suas conquistas, diariamente.

No entanto, os modos de vida aristocráticos, ao tornarem-se moda por serem elegantes, limpos, polidos e alinhados, representaram de forma aparente a pacificação dos comportamentos. Talvez nesses períodos, começou a nossa ilusão a respeito de como devemos nos comportar em sociedade. De forma coletiva, passamos a acreditar que sentimentos que resultam em algum tipo de agressão, contendo raiva, rancor, etc., seriam negativos e necessariamente passíveis de serem descartados.

No entanto, em uma vida territorial sem os cargos e crachás estáveis para nos proteger, são esses os sentimentos responsáveis por proteger nosso território. Somos diariamente atacados de forma polida e ardilosa. Sofremos injustiças em qualquer escala social, seja de um estadista, seja de um porteiro ou da criminalidade. Estamos diariamente recebendo taxações e multas por comportamentos corriqueiros. Centenas de leis nos fazem, necessariamente, em algum momento, um fora da lei. A lei dos homens deixou, há muito tempo, de ser um norteador de comportamento.

As agressões tornaram-se políticas e os gestos, nesse compromisso, são aparentemente pacíficos. Mas, por trás de muita coisa existe o bullying social, que vem da mesma fonte da tirania global que ocorre quando um ditador imagina que o mundo é seu.

A etiqueta dos bons costumes imobiliza as pessoas que acreditaram que precisavam excluir de suas vidas o ataque, considerando-o fruto de sentimentos hostis, variações da ira descontrolada. Mas, quando alguém invade o nosso território, será preciso lutar de qualquer forma sob o risco de perder a própria soberania sobre si mesmo.

Muitas pessoas aceitam a subtração da soberania para evitar conflitos. Isso vale para valentões furando a fila da merenda, vale para países que buscam subtrair outro e vale para aquele “companheiro” egoísta manipulador. São as guerras humanas em diversas escalas.

O desenvolvimento racional fez muita gente acreditar que precisa ser pacífico para ser um cidadão tolerável. Dessa forma, a maioria das pessoas começou a eliminar este sistema imunológico, e os vírus maléficos da sociedade encontraram um amplo território para agirem de forma tirânica sem sofrerem nenhum ataque.

Falam de relacionamentos tóxicos, mas não haveria relacionamentos tóxicos entre pessoas com sistema de defesa ativo. O tirano tenta invadir e é retalhado em qualquer movimento injusto.

Mais uma vez, “enquanto os homens de bem não agem, o mal prevalece.” Melhorar os nossos hábitos sociais não pode significar a exclusão da nossa própria natureza, que é também primitiva e animal. Não podemos excluir o animal que vive no ser humano, mas sim, convertê-lo em boas práticas, educá-lo individualmente.

A agressão física torna-se a última instância, mas o ímpeto neural da agressividade e o instinto de proteção devem permanecer para proteger nossa vida e nos impulsionar para novas conquistas. Essa natureza agressiva, quando convertida para trabalhar com nossos talentos, é o que proporciona as grandes criações do homem.

Nossa razão deveria servir ao ser humano e não a uma intelectualidade fechada em si mesma, que desconsidera a complexidade da nossa vida e as questões tanto de fé, as mais elevadas, como as instintivas, as mais baixas. Tudo é o ser humano e tudo deve ser mantido e convertido para nossos talentos e desejos mais profundos.

Nenhum organismo sobrevive sem um esquema de proteção e alerta sobre a invasão de território. Hoje, talvez mais do que nunca, vivemos em um lugar em que as estruturas foram substituídas por credenciais vagas sobre o território. Somos alguma coisa entre o que dizem de nós no trabalho e o que fazemos nas horas vagas. Nada está assegurado e isso significa que estamos diariamente à mercê de ataques.

Não nos basta mais sermos filhos do rei; precisaremos lutar diariamente para manter o território que nos foi dado e, além disso, lutar para seguir caminhando em direção às conquistas que nossos talentos nos chamam a exercer.

Quando as pessoas desistem de lutar pelos seus sonhos, elas ingressam na subtração da própria soberania e não investem os talentos que lhes foram entregues pela natureza (Ele) divina. Se temos talentos, temos responsabilidades sobre o nosso território e seremos atacados por tiranos justamente por desejarmos alguma coisa de bem. É por esse motivo que defender nosso território é uma questão de soberania, e quando pensamos de forma social e prática, torna-se uma questão de cumprir o nosso destino de nos religar a Deus e o sentido da nossa existência. Ou seja, é uma questão de vida e de morte, de liberdade e de prisão.

Quem não defende o próprio território estará fadado a viver no submundo da própria existência.

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