“A um deu cinco talentos; a outro, dois; e a outro um, segundo a capacidade de cada um. Depois partiu. Logo em seguida, o que recebeu cinco talentos negociou com eles; fê-lo produzir, e ganhou outros cinco. Do mesmo modo, o que recebeu dois, ganhou outros dois. Mas o que recebeu apenas um, foi cavar a terra e escondeu o dinheiro de seu senhor.”
Mateus 25:14
A parábola dos talentos, apesar da analogia com o dinheiro, é praticamente literal. Os talentos que ganhamos, e eles vêm de algum lugar que ainda ninguém sabe dizer ao certo, são vivos. Guardá-los na poupança é uma sentença para que, em breve, nada mais exista. A poupança rende menos que a inflação. Um talento que não é colocado no mercado murcha até a morte. Nenhuma pessoa de sucesso recebeu o sucesso de graça. Essas pessoas receberam os talentos de graça, mas tiveram que trabalhar duro, lapidando o que receberam, para conquistar seus lugares. Isso vale seja qual for a situação financeira e cultural em que estivermos inseridos. Cada pessoa enfrenta seus desafios pessoais e esses desafios, quando superados, transformam essa pessoa em uma vitoriosa, uma pessoa de sucesso. E não importa como os outros enxerguem o tamanho do desafio.
No mundo dos talentos, não se deve comparar as quantidades. A única coisa que existe é o trabalho investido para lapidá-los. No mundo dos obstáculos também não há comparação, pois a única coisa que importa é superá-los, ou não. Essa é a medida do sucesso e ela é universal. Mas, claro, as comparações são inevitáveis. Em certa medida, essas comparações nos servem como norte. Vamos em direção ao aperfeiçoamento e observamos quem já trabalhou mais e está em níveis mais altos. Porém, a perspectiva filosófica e espiritual de cada um pode acusar, nesse momento, uma cilada perigosa: comparar-se sem considerar os desafios que outras pessoas já superaram. O que leva o indivíduo a colocar a culpa nos outros, no estado, na sociedade, nas circunstâncias pessoais, sem considerar que são esses os obstáculos que devem ser superados. Ficar reclamando do externo não mudará nada.
É nesse momento que surgem frases como: “Para ele é fácil, pois ele não precisa acordar às cinco da manhã para pegar ônibus.” “Para ela é fácil, pois ela não precisa cuidar de dois filhos.” Não é fácil para ninguém. A coisa toda é muito justa e justificada, mesmo que ninguém saiba explicar os motivos dos principais problemas do mundo. Eles estão aí, com pessoas trabalhando a favor e outras contra. Da mesma maneira, temos nossas capacidades psicológicas, físicas e espirituais trabalhando a favor e muitas delas contra nossos objetivos. Atribuir as frustrações às outras pessoas, à falta de condições técnicas e qualquer outra coisa que habite o mundo exterior, é um atestado de que seremos repreendidos pelo Senhor que nos deu os talentos e eles serão consumidos pela inflação.
Quem não investe os talentos será cobrado. Mesmo que seja apenas um, mesmo que seja representativo apenas no seu pequeno mundo, que é muito grande para você, investir os talentos é uma responsabilidade individual e coletiva.
Talvez todas as respostas estejam nessa pequena parábola. Caso tivéssemos uma onda de autorrealização, de pessoas trabalhando para lapidar seus talentos, teríamos menos frustração, menos depressão, mais otimismo e certamente menos problemas. Investir nos próprios talentos é uma questão social, quem sabe a única forma de se importar, de fato, com os outros. A tal da empatia que muita gente gosta de postar como hashtag.
Quem habita a realidade percebe que é somente trabalhando individualmente em cima do que nos foi entregue de graça é que as coisas podem mudar para melhor.