O corpo é como uma ferramenta e, como qualquer ferramenta, ele precisa aguentar o tranco. Um jogador de futebol necessita de pernas fortes, músculos flexíveis e joelhos e tornozelos saudáveis. As articulações são, talvez, o ponto central dessa ferramenta em qualquer modalidade esportiva. No entanto, isso é apenas o básico para um desempenho esportivo de alto nível. A ferramenta é o básico em qualquer área praticada em um nível elevado. O que diferencia os praticantes é a mentalidade.
Ninguém sabe ao certo onde reside a consciência. Podemos chamá-la de alma, uma vez que até os cientistas mais avançados ainda não encontraram uma região específica no cérebro que possa ser atribuída à consciência. É um complexo conjunto de processos que resultam em ações específicas, e essas ações variam entre indivíduos. O processo mental é o que nos distingue e é por meio desse processo que alcançamos nossas conquistas.
Um estudo realizado na Universidade de Bolonha pelo pesquisador Samuele Marcora, que envolveu ciclistas de alto desempenho e amadores, constatou que a fadiga mental impacta diretamente no rendimento do atleta, mesmo que não haja sinais visíveis de fadiga física. O aspecto mental é crucial para o sucesso em qualquer cenário. Quando a mente está cansada, nenhuma ferramenta pode funcionar como deveria. Para um artista, os pincéis e tintas são essenciais, mas é a mentalidade, a visão que reside no cérebro em algum lugar ainda desconhecido, que diferencia um pintor comum de um Picasso.
Esse tipo de perspectiva pode nos fornecer uma noção da relevância do esporte em nossa cultura. O avanço científico nos leva a pensar que, em meio a esse processo de racionalização contínua, estamos diante de um dilema que divide as pessoas em dois grupos diferentes: aqueles que enxergam o invisível aos olhos e aqueles que se limitam ao visível.
O atleta que ascende à elite começa a perceber a necessidade de gerenciar suas emoções. Essas emoções são resultado de uma série de processos psicológicos, que por sua vez levam a comportamentos que foram moldados pela cultura em que ele cresceu. É nesse ponto que o esporte pode proporcionar uma nova perspectiva. Uma forma de enxergar o que não é percebido pela maioria das pessoas.
Para entrar na elite esportiva, o atleta precisa trabalhar suas emoções e aprofundar o autoconhecimento para obter vitórias dentro de um campo tão competitivo. A mágica acontece no detalhe de um jogo interno, solitário e psicológico. Não é coincidência que, em qualquer vitória de equipe ou gol importante, é comum ouvir agradecimentos a uma força superior, a Deus, independentemente de crenças religiosas. Isso denota um fator além do físico que ajudou o atleta a superar os desafios.
Esses atletas de destaque compreenderam que o sucesso veio de algo que escapa à percepção do cidadão comum. A batalha diária não foi apenas contra lesões, mas sim contra a tarefa constante de seguir um planejamento e fazer as escolhas certas para manter-se firme no caminho da vitória. A luta diária envolve focar em um objetivo futuro, algo que ninguém mais vê, para direcionar as ações do dia a dia.
Acreditar em algo que transcende o físico já não faz parte da cultura predominante. No entanto, o esporte requer esse tipo de mentalidade para ter sucesso. O esporte pode ser a solução para um novo problema, oferecendo uma resposta antiga. Ele oferece um caminho para a alma para todos que buscam um lugar na elite.