Aquelas antigas dicas sobre arrumar a cama, antes de qualquer outra coisa, vencer o botão soneca do celular e cumprir pequenas missões logo nos primeiros momentos da manhã são pequenas vitórias que criam um ambiente vitorioso e, por conta própria, ganham forma como combustível para os próximos desafios do dia. Vencer é um hábito que pode ser praticado nos mínimos detalhes, e há quem diga que a chave para as grandes vitórias são as micro vitórias.
Aquele livro que repousa por meses na cabeceira da cama. Um fracasso que está ali, dormindo ao seu lado, todos os dias. A ideia de incorporar o hábito de leitura, de abandonar o celular antes de dormir, de adquirir novos conhecimentos de forma ordenada e profunda. O livro está ali, como um sinal de derrota. E a derrota, da mesma maneira que a vitória, se espalha por todas as esferas. Quanto mais derrotas, micro derrotas, mais esforço para sair desse ciclo.
Grandes escritores costumam dizer que seus maiores feitos estão longe de estarem ligados às ideias que estavam contidas nos livros. Fiódor Dostoiévski escreveu grandes obras em situações que dificilmente podemos imaginar uma pessoa comum escrevendo. Sem dinheiro, esposa doente, sofrendo com problemas respiratórios e prazos de entrega, nessas circunstâncias ele entregou alguns de seus melhores livros. Genialidade? Certamente, mas o que muitos dizem é que a verdadeira genialidade está em sentar todos os dias no mesmo horário e iniciar o trabalho. Nada além disso. As ideias criativas, que muitos creditam à imensa capacidade imaginativa do escritor, surgiam à medida que o trabalho se desenvolvia, nunca ao contrário. A vitória estava em vencer o despertador, o cansaço e começar.
Para atletas de alto desempenho, as mesmas pequenas vitórias criam o ambiente para que a medalha de ouro aconteça. A vitória sobre as ansiedades antes de dormir, sobre os gatilhos que a angústia aciona nos momentos de solidão. Cada pequena vitória tem seu valor ao final do ciclo. Pelo mesmo motivo, é tão importante combater o menor de todos os vilões.
No final das contas, nunca saberemos se quem nos derrotou foi o botão soneca ou o golpe certeiro do adversário, ou se nossa melhor jogada foi aquele sprint final ou arrumar a cama todos os dias. Mas, tanto na vitória como na derrota, sabemos que o segredo reside nos detalhes, na autopromoção de um desses dois estados de espírito.