Descobrir os caminhos não significa trilhá-los. A prescrição médica não significa cura. Identificar os problemas não significa resolvê-los.
É um tanto quanto tentador nos debruçarmos em diagnósticos. Eles nos dão sensações prazerosas de progresso. Afinal de contas, para a imensa maioria das circunstâncias em que nos encontramos, é melhor saber o que se faz do que fazer as coisas sem conhecer os motivos. No entanto, é necessário respeitar o homem do instinto e conter um pouco o homem da razão, o homem do subsolo.
Temos muitos especialistas em processos milagrosos e macetes que, em tese, podem nos levar ao estrelato de nossas empreitadas. Nos rodeamos de diagnósticos: nossa marca está desatualizada, faltam campanhas de influência, precisamos incluir o inbound marketing e investir em mídias programáticas. Muitos diagnósticos e, provavelmente, corretos.
Entretanto, um diagnóstico não irá resolver o nosso problema, assim como a prescrição médica não nos cura. O que resolve é a nossa ação em relação ao diagnóstico.
A estratégia para a cura precisa de um diagnóstico e de centenas de ajustes. Ao que parece, temos invertido essa lógica e nos rodeado de centenas de diagnósticos e de um punhadinho de ajustes. Melhorar as coisas só é possível quando consideramos um problema e o combatemos no campo de batalha correto: na mente dos envolvidos e nos aspectos e influências que têm coordenado as decisões psicológicas dos participantes desse jogo.
Em uma empresa com problemas de cultura, não adiantará expor diagnósticos drásticos e imaginar que ações serão tomadas na mesma proporção. As pessoas envolvidas no processo são influenciadas por variantes incalculáveis e, na maioria das vezes, desconhecidas. É quase impossível traçar um modelo que mostre de forma efetiva o resultado de certas ações estratégicas, tendo em vista que cada agente é influenciado por derivadas distintas e desconhecidas. Trata-se de um sistema complexo, criado pela conexão entre seres humanos e seus sentimentos e paixões.
Gostamos dos diagnósticos por conta da ilusão de problema resolvido. E temos dificuldades em implementar mudanças, pois a tentativa, tanto pessoal quanto empresarial, é incluir ações tão drásticas quanto o diagnóstico. Para o diagnóstico da obesidade, drástico e preocupante, o primeiro passo talvez seja começar a ingerir mais água, mais frutas, cortar algum detalhe gorduroso nas refeições e ir escalando essas mudanças mês a mês, ainda considerando deslizes. A cura virá alguns anos depois de um diagnóstico feito no passado.
O diagnóstico é seguido de uma prescrição, e a cura é seguida de centenas de pequenas ações em um longo prazo, em que cada obstáculo vencido será uma grande vitória, mesmo os menores.