As grandes conquistas, aquelas que são reconhecidas por todos, justamente por esse fato sugerem algum enigma por baixo dos louros da vitória. Nosso primeiro gatilho (viés cognitivo) é pensar que toda a força de vontade de quem vence está nas honrarias de tais conquistas, ou seja, fama e dinheiro.
Mas para vencer uma Copa do Mundo, cantar o hino nacional para milhões de pessoas e mudar os rumos da arte, é preciso muito mais do que um pagamento. Nenhum ser humano consegue, sozinho, por conta própria, escalar o topo do mundo por dinheiro e fama. Mas a nossa régua de compreensão coloca apenas as honrarias nessa balança e esquece de olhar para dentro de si, para as nossas próprias motivações.
Fazemos muitas coisas por dinheiro e reconhecimento, mas existe uma camada mais profunda do que isso.
O ser humano é um projeto inacabado que precisa se mover em direção a algum ponto para que algo lhe sugira progresso. Precisamos avançar, diariamente, para sentirmos que estamos vivendo. A vida, para muitos filósofos, é um emaranhado de situações que geram conflitos, e esses conflitos podem ser resolvidos para o bem ou para o mal, podendo também não ser resolvidos, e todas as consequências humanas estariam aí. A vida é resolver conflitos e seguir em frente até o próximo.
Isso significa que, para a maioria das pessoas, não há um lugar estável, sem conflitos. Chega ao topo quem resolve mais conflitos para o bem do que para o mal. Uma regra bastante humana e materialista. De qualquer forma, uma ação do espírito precisa encontrar uma ação na matéria. Ou seja, conquistar uma Copa do Mundo é uma grande realização para uma pessoa (para o corpo, mente e espírito de alguém).
Mas para seguir em frente combatendo as dissonâncias da vida, os conflitos matinais e profissionais, será preciso muito mais do que dinheiro e fama. Essas coisas são apenas benefícios humanos. O espírito desconhece confortos. O espírito precisa de substâncias que ninguém enxerga.
Na infância da maioria das pessoas, certamente, havia inclinações e preferências, indícios de talentos que poderiam servir para a escalada até o topo. Grandes artistas e jogadores têm em comum o fato de terem nascido em famílias que já possuíam uma bagagem técnica sobre alguma prática. Dois exemplos: Ronaldinho Gaúcho e Whitney Houston. Duas pessoas vieram de famílias que tinham vários profissionais em suas modalidades.
Dessa forma, essas crianças vieram a se tornar ícones de sua geração por conta da extrema capacidade que desenvolveram em suas funções. Ninguém cantou como ela. Ninguém jogou como ele. Mas ao chegarem ao topo, muita coisa mudou. Eles conseguiram o que desejaram. Aquele desejo que a família havia embutido desde o berço.
E agora? Para onde correr?
Esses dois ícones foram como grandes obras de arte do ser humano. Conquistaram o mundo e representaram um tipo de aspiração para todas as pessoas: ser o melhor que se pode ser. As drogas, de todos os tipos, não entram sem justificativa nessas vidas gigantescas.
Sem almejar mais nada para atingir, sem ter mais emoção para sentir, resta anestesiar-se de si mesmo. A juventude nos sugere uma série de ilusões que nos oferecem algo valioso. Ilusão, sedução e persuasão são facetas de uma promessa que diz que há um caminho certeiro para ser trilhado e que lá no fim haverá glória eterna.
Mas a glória dura apenas alguns dias. Um outro caminho precisará ser trilhado. O caminho das drogas surge nesse instante, levando artistas como Whitney Houston a entregar a própria vida como um sacrifício contra a ilusão das conquistas. Me parece que a única saída, agora me parece, é a entrega a uma família. A criação e proteção da própria família.
Dessa forma, um novo fruto será entregue ao mundo, talvez melhor, talvez pior. E a roda do espírito segue incompreendida. A das honrarias e da fama já está desvendada.
Uma grande montanha que precisará de uma estratégia para a subida, mas também para a descida.