Uma premissa básica da publicidade é que quando uma celebridade utiliza o seu produto, ele será vendido. Para isso, basta negociar, mas a adesão do público depende de outra regra básica: a demanda.
Não basta colocar o seu produto na série mais bombada do Netflix. Ele precisa ser útil para as pessoas, e o público precisa enxergar que ele é necessário. O que nos faz pensar que, mesmo que a Vandinha lesse Platão durante toda a série, as vendas dos livros de Platão não aumentariam. No máximo, talvez, uma produção pasteurizada de Leandro Karnal com o título de: 23 dicas de Platão para um mundo pós-contemporâneo, estaria disponível na Amazon. Ainda assim, tenho dúvidas. Mas, é preciso existir demanda para que um produto se mantenha vivo. E na indústria esportiva, o esporte amador é o grande combustível.
Todo o investimento em treinamentos, categorias de base, medicina e psicologia esportiva, trilhões de dólares em transações e eventos, inúmeros programas sobre futebol, tudo para que ao final, o esportista que não é um atleta profissional, torne-se um cliente.
Aqueles campeonatos em escolas estaduais com mil garotos jogando futebol resultarão em um ou dois atletas profissionais. Quase ninguém conquista um lugar de fama, mas os outros 998 que restaram tornam-se os futuros clientes eternos. Compram todas marcas de todos os tipos de roupas esportivas, vão aos jogos, assinam canais e uma paixão inexplicável pelo clube, pelo esporte, permanecerá viva para sempre. Talvez, desde aquela derrota no campeonato do colégio contra o time da quinta série, mais habilidoso.
Para os futuros atletas, dois caminhos: o do sacrifício e risco em que os profissionais se colocam, ou o mais confortável e duradouro, porém, carente de glórias, vitórias ou derrotas, que é a dos amadores eternos que não tiveram coragem suficiente para encarar os desafios do esporte profissional e permanecerão por décadas investindo em atividades esportivas superficiais para o corpo, mas para a mente, uma sensação de realização plena.
Claro que a maioria dos jogos de final de semana são pretextos para encontrar os amigos e suar um pouco. A maioria desses bravos homens trabalha em escritórios, em carros, pouco se mexem, e as barrigas acusam que o setor de nutrição demitiu os profissionais responsáveis. Mas ainda assim, esses caras são os grandes heróis da indústria esportiva, principalmente do futebol. O futebol precisa deles tanto quanto precisa dos profissionais de ponta. Um Cristiano Ronaldo vale tanto quanto mil Claytons, Rodrigos, Pierres e Tiagos… É a cauda longa do consumo e ela vive dos amadores. As estrelas apenas mantêm o sonho vivo. Portanto, respeite um atleta de final de semana. A sua barriga apenas indica que ele um dia tentou, mas foi vencido pela cerveja.