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O caminho de volta para casa

Posted on 20 de outubro de 202320 de outubro de 2023

Focar, focar e focar. Mas focar em quê, exatamente?

1“No entanto, há momentos durante o treinamento em que você se sente exausto e não quer sair pela porta. Nessas horas, é importante lembrar do objetivo final, da meta para a qual você está trabalhando.”

O segredo está aí para quem quiser em muitos cursos online: manter o foco e aumentar a produtividade. Basta assistir a algumas palestras, praticar exercícios de rotina e, naturalmente, o foco se desenvolverá. 

No entanto, tornou-se comum falar da falta de concentração, esquecendo-se de procurar a raiz do problema. Muitas pesquisas indicam que a capacidade de concentração tem diminuído a cada geração e, na falta de uma solução eficaz, muitos recorrem a remédios (drogas) para controlar, em certa medida, essa energia que se dissipa em várias direções.

“Eles caminharam, e caminharam, e parecia que quanto mais andavam, mais se perdiam na vasta floresta.” (João e Maria)

Tornou-se comum falar sobre o impacto das redes sociais e tablets nas mãos de bebês, que desde cedo mergulham no mundo hiperestimulado das mídias digitais e acabam desenvolvendo uma aversão pelo silêncio interior. Com tantos estímulos externos, parece que se torna cada vez mais difícil encontrar um caminho para a introspecção.

No entanto, como diz o velho ditado, “mente vazia, oficina do diabo”, vários fatores contribuem para esse problema. Estamos vivendo um momento coletivo que parece buscar novos caminhos e questionar o que foi construído no passado. As “instituições culturais”, os dogmas e rituais que nos orientaram por milênios, agora estão enfraquecidos ou voláteis, como Zygmunt Bauman afirmou (A sociedade líquida). Sem uma direção clara, as forças tendem a se desmobilizar, pois ninguém sabe exatamente para onde devem ir e que ordens devem ser obedecidas.

Com o “general”(antigos dogmas) morto, as tropas ficaram perdidas no meio de bombas e tiros, e cada soldado decide tomar ações individuais. Coletivamente, a queda é apenas uma questão de quanto tempo eles podem resistir. Da mesma forma, nos encontramos sem as estruturas que nos guiaram por milênios. Por exemplo, casávamos jovens e para isso era preciso cumprir uma série de obrigações, como ter uma carreira em andamento. O sexo deveria passar pela triagem do casamento para ser considerado permitido. 

Mesmo que muitas dessas normas fossem invisíveis e burladas, a mentalidade do casamento estava lá, orientando as pessoas para um destino desconhecido, assim como uma tropa segue as ordens de um general mesmo quando sente que não tem capacidade nem forças para executar as coisas exigidas neste combate. 

Remova o casamento, e você remove um sentido de ordem, e o que fica é a mentalidade da liberdade sobre todas as ações. O resultado é a sociedade da incerteza. Agora, podemos fazer tudo, mas ao mesmo tempo, não sabemos o que desejamos fazer. Vivemos em um tempo em que nossos desejos não foram renovados, e estamos em busca  da satisfação total, como crianças comendo doces em uma festa de aniversário. 

“Há séculos que, por não saber renovar seus desejos, morrem de satisfação, como morre o zangão afortunado depois do vôo nupcial.”2

Dessa forma, perdemos milhares de lutadores devido a práticas infrutíferas, como a linha do tempo infinita de uma rede social, repleta de vídeos sobre alguma dança. Isso reflete a concretização do que Aldous Huxley descreveu em ‘Admirável Mundo Novo’: 

“As músicas não têm estrutura e as letras se limitam a falar sobre os movimentos que devem ser feitos para dançar ao ritmo da música. Mão na cabeça, perna para o lado, balança o bumbum e volta.”3

Na sociedade da incerteza, quem ousa afirmar que sabe para onde está indo será seguido. No entanto, apenas três tipos de pessoas costumam fazer tal afirmação: os justos de coração, os tiranos e os estúpidos. Nesse cálculo, temos apenas 33% de chance de ouvir alguém justo dizer que sabe para onde está indo. Isso é uma armadilha perigosa para quem não acredita que há um destino pré-determinado a ser seguido, algo intransferível que só nós podemos alcançar.

  1. Relentless: Secrets of the Sporting Elite – Alistair Brownlee ↩︎
  2. A Rebelião das Massas – José Ortega y Gasset
    ↩︎
  3. Admirável Mundo Novo – Aldous Huxley ↩︎
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