Vamos dar um nome próprio a ele, mesmo assim você nunca vai encontrá-lo com o mesmo uniforme. A Resistência se manifesta de formas diferentes, em momentos, horários, dias e circunstâncias diferentes. Esse inimigo é implacável justamente por isso. Quando você imagina que o derrotou, apenas o fez trocar de roupa.
A Resistência é tudo que nos segura num lugar em que não gostaríamos de estar. A Resistência nos faz entrar no Instagram antes de terminar um trabalho importante, ela nos incentiva a comer mais quando já estamos saciados. Ela é um mecanismo de autodestruição presente na vida de todos nós.
O futebol vivenciou um momento, por volta dos anos de 1910 e 1920, em que o profissionalismo era colocado em segundo plano. Alguns técnicos, inclusive, acreditavam que os treinamentos tiravam a vontade dos jogadores. Com a distância da bola e dos gramados nas partidas oficiais, os jogadores entravam com mais vontade. Essa premissa nos parece um absurdo quando observada com os olhos competitivos e milionários de hoje, mas é muito provável que exista algo de verídico nisso tudo.
Os esquemas táticos foram ganhando forma e prevalecendo sobre estruturas menos organizadas. As equipes passaram a treinar, e os jogadores a aperfeiçoar sua técnica, e muitos críticos do passado perceberam que a necessidade da vitória ou o medo da derrota transformaram o futebol em uma indústria que perdeu o caráter artístico e passou a ser uma fábrica nos moldes de Ford. A modernidade, a disciplina, o condicionamento físico, a higiene, a saúde, o profissionalismo, o sacrifício entraram em campo.
Dessa maneira, foi possível catalogar as carências e necessidades que precisam ser trabalhadas e os defeitos que precisavam ser extintos, e muita coisa avançou. O futebol ganhou força, velocidade e técnica. Mas é inegável que, mesmo não deixando de ser uma espécie de arte, todo o esforço passou a ser direcionado para ganhos financeiros e nada mais.
Nesse sentido é que muitos ex-jogadores, que tiveram sucesso em suas carreiras, percebem alguns problemas. Aqueles jovens que no passado precisavam provar para os mais velhos que tinham força mental e física, no alto dos seus 19 anos, hoje entram em campo valendo milhões. Como conter o impacto dessa quantia na mente de um jovem?
Essa força, esse inimigo, essa Resistência também é inegável e pode ser percebida nos “tabloides” sobre o esporte: jovens jogadores que não escalaram uma posição psicológica com desafios e obstáculos específicos não estão preparados para valer tanto. Ronaldo Fenômeno entregava café para o Romário, Renato Gaúcho tinha que trazer pasta de dentes para os colegas, D’Alessandro passou uma semana “apanhando” antes de conquistar um lugar na estrutura psicológica do time e se mostrar ao futebol.
Os jovens jogadores talentosos de hoje estão sendo catapultados para o topo, onde são vítimas fáceis da Resistência. Esse inimigo adora a vaidade e tem muitas sugestões sobre o que pode ser feito com fama, dinheiro e redes sociais.