Os jornalistas esportivos fingem que trabalham, e os técnicos e jogadores fingem que acreditam. Mas tudo tem limites. Renato Gaúcho foi derrotado pelo Internacional no último Gre-Nal, mas ele não foi derrotado na entrevista coletiva. Muito pelo contrário, ele deixou de fingir, e os jornalistas, talvez tão habituados ao papel de apagar o fogo com gasolina, não conseguiram evitar parecer bestas quadradas ou analfabetos (com muitos indivíduos que sejam mais do que apenas funcionais).
Para os torcedores, eu sei, é difícil deixar de lado a emoção futebolesca e corrosiva, mas, em alguns momentos, é possível ter um pingo de lucidez para perceber que o modelo de negócio brasileiro de tentativa e erro com técnicos não irá funcionar nem mesmo trazer um título para o time. Mas a sensação, sim, essa será restaurada. Os torcedores também fingem que acreditam.
Renato Gaúcho é o nosso Ted Lasso. Ele fala do ser humano por trás dos jogadores. Ele luta contra o viés popular que reduz todas as atividades ao simples comércio de horas de trabalho e dinheiro recebido. A maioria das pessoas julga que, por receberem muito bem por fazer o que fazem, eles simplesmente deveriam vencer e jogar bem, sempre. Nenhum trabalho, do mais comum ao mais complexo, pode ser resumido a uma troca de valores. E o ser humano é muito mais complexo do que trabalho e dinheiro.
Ao falar sobre a saudade que os jogadores têm de casa, Renato só está falando o óbvio. Ao falar sobre a troca de colchão de três em três dias, ele está citando um fator ponderável. Quando ele diz que colocou um zagueiro no lugar de um atacante porque não tinha outra opção, ele está falando algo que não é passível de intrigas ou debates afetados.
Quando os técnicos vão para as entrevistas após uma derrota, eu não tenho pena dos técnicos, eu tenho pena do povo brasileiro, que pode ser percebido no tipo de pergunta que é feito por esses profissionais. Eles não são, simplesmente, maus profissionais. Eles são um bom resumo do povo brasileiro, reclamão e buscando sempre um motivo para culpar dentro de um processo extremamente complexo. O brasileiro quer apenas um motivo, não precisa de muita coisa, para colocar os motivos da sua ansiedade em alguém ou alguma coisa.
Renato é sujeito homem, como Muricy, Felipão, Luxemburgo, Abel Braga, Abel Ferreira, e esse tipo de jornalismo rasteiro, mesquinho e farsante precisa acabar.
Mas a única forma é combater esse conceito, essa atitude, em nossas próprias vidas, em nossas ações cotidianas mais básicas. Uma delas é desligar essa porcaria de rádio.