A sobrevivência é um mecanismo intrínseco para qualquer organismo. Porém, o ser humano é muito mais complexo do que qualquer outro tipo de organismo, e o conceito de sobrevivência se torna amplo e complexo da mesma forma.
Uma guerra é um duelo entre doutrinas. São ideias sobre a estratégia militar, uma espécie de filosofia, que auxilia os generais a formarem e guiarem suas tropas para encarar o inimigo. A guerra é um assunto popular, mesmo que esteja escondida entre tantos outros formatos e modalidades, e todos estão habituados com paisagens e enredos de guerra, mesmo quando imaginamos estar apenas praticando algum esporte ou debatendo algum assunto.
Todos nós sabemos um pouco sobre como é lutar pela sobrevivência. Esse combate é diário. Nossas ideias e atitudes enfrentam adversários diariamente. Mesmo que o desejo maior seja o da paz e que não houvesse tantos conflitos, por algum motivo ainda encoberto, precisamos passar pela guerra para encontrarmos a paz. A paz de espírito, a paz de viver em coerência consigo mesmo e com as próprias atitudes. A paz de lutar pelo certo.
Ser derrotado no campo das ideias pode ser mais letal do que a derrota física. Uma ideia move multidões, inflama sentimentos hostis e de bondade. Uma ideia pode ser o início de tudo. A morte de uma ideia pode significar a própria morte. Entretanto, há um mistério nisso tudo. Quando encontramos a morte, é como se a vida também surgisse. Um mistério inexplicado, ainda, talvez ligado ao tema da ressurreição de Cristo, mas que conseguimos saborear quando somos derrotados por adversários mais fortes e violentos, que acabam por nos entregar lições duras de combate. Para um guerreiro constante, a derrota é um momento de reflexão e modificações.
O futebol oferece o mesmo pano de fundo de uma guerra. Temos as nações (equipes), os soldados (atletas) e toda a estrutura voltada para fornecer o material necessário para esses confrontos. Temos até mesmo uma guerra mundial (Copa do Mundo).
É fácil perceber os problemas de uma guerra em seu sentido literal. Porém, não é fácil explicar os motivos de elas ainda estarem acontecendo. Muitos pensadores alegam que o ser humano é forjado na guerra, e toda a sua curta existência é um combate. Desde a luta contra bactérias, doenças, fome… Até chegarmos ao grande duelo intelectual, que aparentemente é a mais limpa de todas as guerras, mas, certamente, não é.
O futebol apresenta valores semelhantes, seja intelectual ou físico. São doutrinas práticas executadas por clubes e seleções, com desertores punidos e rechaçados pelos companheiros, e heróis sendo recompensados com honrarias e glórias.
A guerra ainda é uma incógnita, a paixão pelo futebol também. A militarização do futebol, talvez, tenha ocorrido de forma a contribuir para esse teatro de guerra com uma pretensão velada de acalmar nossos corações enquanto a bola estiver rolando.
Talvez o futebol seja uma resposta inconsciente, talvez.