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Convicção no trabalho

Posted on 16 de julho de 202317 de julho de 2023

A troca de técnicos no Brasil pode representar muito bem a instalação do regime de urgência e pressão que temos vivenciado. O resultado é o objetivo central de qualquer planejamento e ele tem sido medido apenas pelas vitórias. No caso de campeonatos, é muito fácil perceber esse equívoco, mesmo assim, ele persiste. Apenas um time vence, mas e os outros trabalhos? Os outros técnicos não agregaram nada para suas equipes, para seus jogadores? 

Eles são substituídos com a ideia, ingênua e mística, de que o novo técnico pode trazer a vitória rapidamente. O resultado precisa vir rápido.

Um técnico é uma ideia, uma ideia que se materializa no comportamento do time. Esse comportamento precisa invadir os treinos e as categorias de base. Um técnico precisa representar a filosofia do clube. No Borussia Dortmund costuma-se dizer que ali só jogam atletas; antes mesmo de ser um jogador é preciso ser atleta. Isso significa que a preparação física está acima de todas as coisas. Muitos clubes e torcedores contestam esse tipo de abordagem, porém, é uma premissa clara. Para jogar no Dortmund é preciso ser fisicamente forte.

O futebol avança de forma paralela aos aspectos culturais do momento. A Copa de 1970 simbolizou um avanço científico, com o Brasil vencendo tendo feito uma série de treinamentos físicos na Nasa. Talvez, não por acaso, os Estados Unidos também venceram a corrida espacial e pousaram na Lua. A ciência estava consolidada no futebol e na sociedade.

Esse tipo de incorporação parece retirar o caráter instintivo do jogo, engessando algumas práticas e modificando comportamentos. Dessa forma, o que antes significava o ápice do jogo, como dribles e passes magistrais, acabou representando, também, a derrota de times como o Brasil de 1982, por exemplo. O esquema tático superou a habilidade e o instinto. Essa premissa tem vigorado no futebol e, também, na vida.

De qualquer forma, para praticar um esquema tático é preciso tempo e maturação. Como estabelecer um padrão e melhorá-lo, sem um trabalho constante e duradouro? Parece inviável e, como costumamos dizer por aqui, o futebol é o reflexo da cultura em que está inserido.

Como alguém pode evoluir em sua vida sem manter constante uma linha de raciocínio, uma ideia filosófica e uma série de práticas que precisam de tempo, repetições e muito trabalho? Ninguém aprende uma segunda língua do dia para noite, ninguém aprende um instrumento apenas com aulas online. É preciso manter o técnico por mais tempo e medir o resultado por meio das conquistas no processo. 

Apenas um time vence, mas o trabalho de hoje contribui para a vitória que chegará muito em breve. Mas, qualquer tipo de vitória precisa de tempo para ser maturada. Um técnico precisa estar alinhado com a filosofia do clube. Os jogadores precisam manifestar essa ideia. O futebol representa uma cultura e estamos inseridos nessa, de imediatismo e desespero constante por resultados. 

A vitória é apenas um dos frutos da convicção de uma ideia profunda praticada pelos jogadores. Trocar de técnico é desespero e é o que temos feito no futebol e na vida.

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2 thoughts on “Convicção no trabalho”

  1. Anônimo disse:
    21 de março de 2024 às 22:48

    Adorei a materia

    Responder
    1. Daniel Finkler disse:
      30 de abril de 2024 às 10:48

      Muito obrigado.

      Responder

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